sexta-feira, 22 de outubro de 2010

Personalidade?!

Não gosto dessa palavra, personalidade. Acho que ela é usada indevidamente. "Aquela mulher tem personalidade". É óbvio que tem, tanto quanto tem ossos. Não existe pessoa sem personalidade. Existem pessoas que não deixa marcas, que passam por nossas vidas de forma quase despercebida. Que não deixam de si e não levam de nós. Como paredes, sofás, estão ali. Mas não dá vontade de mergulhar nelas. Gosto daqueles cuja intenção principal não é a de agradar, mas que acabam fazendo isso ao despertar em mim a vontade por respostas, o desejo de decifrar os enigmas. Gosto de pessoas que me surpreendem, que me instigam. Doces, ácidas, mas que tenham sabor. De olhos calmos ou furiosos, mas que neles eu possa ver a alma. Que usam da paixão para pensar, para sentir, para agir e interagir. Para viver. Que não estão aqui para fazer número. Que buscam entender, a si mesmos e aos outros. Que se expõem, que saem dos seus mundinhos de verdades perfeitas e felicidade infinita. Gosto das pessoas que são ao mesmo tempo constantes e imprevisíveis. Das que riem e choram nas horas mais impróprias. Das que perderam o medo de dizer "eu te amo" e "eu te odeio". Que desabam de vez em quando. Que pedem desculpas, que agradecem, que imploram por alguma coisa. Das que me fazem rir ou chorar, ou me sentir leve, ou me sentir incomodada. Gosto das pessoas que pensam em coisas absurdas, que sabem ler entrelinhas, que enxergam o invisível. Que fazem poesia das coisas comuns, sem perceber isso. Odeio quem vive de teorias emprestadas. Que sequer entende o que fala, mas repete. Odeio quem nunca questiona as regras. Quem nunca muda o itinerário, quem nunca muda de ideia, quem nunca muda. Ser sempre o mesmo, em uma vida que muda a cada dia? Odeio quem tem medo de odiar. Não concordar é prova de amor, de interesse. Prefiro que gritem comigo do que me ignorem. Os teimosos têm a força da convicção. Os tristes têm sensibilidade. Os inconformados movem o mundo. Os que atrevem-se a pensar e a agir da forma que poucos pensaram e agiram, mudam a história, devagar, abrindo o caminho para aqueles que não coneguem deixar de seguir e acreditar no normal, no evidente, no esperado, no certo, no comum. Ter personalidade é ter coragem para mostrar tudo o que somos, o que gostamos e o que buscamos. Somos formados por aquilo que nos permitimos ser.

terça-feira, 5 de outubro de 2010

O que Posso Fazer por Você?

Não vou lhe salvar: vou estar ao seu lado observando você mesmo se salvar. Não vou fechar os olhos para os seus defeitos, mas também não pretendo corrigi-los. Vou tentar fazer com que você tenha consciência deles, e decida por conta própria se quer mudar ou não. Não vou lhe dar falsas certezas, e talvez seja nas dúvidas que lhe trago que você conseguirá enxergar as respostas que procura. Não cabe a mim lhe perdoar, nem lhe dar novas chances. Cabe a você se enxergar, se entender e desejar não cometer os mesmos erros. Não sou melhor nem pior do que você. Temos muito o que aprender e ensinar um ao outro. Somos indivíduos em tentativa de ajuste. Em busca de algo parecido com felicidade. Lamento, mas eu não tenho a capacidade de lhe fazer feliz. Porque felicidade não é presente, é conquista. E talvez consigamos a encontrar em alguns trechos desse caminho compartilhado. Enquanto estivermos tentando conciliar o "nosso" com o "meu" e o "seu". Sem que deixemos de escrever nossas próprias histórias. Sem que impeçamos um ao outro de ser, de sonhar, de crescer, de mudar. E talvez isso seja o amor que dissemos nunca ter entendido ou encontrado.
Fico feliz em ver você se tornando você. Seus voos não trazem a mim medo de lhe perder. Pois é mais fácil um pássaro engaiolado tentar fugir do que aquele que possui o céu inteiro para voar.

O que você faria se pudesse fazer o que quisesse?

Estou sozinha. Minha cadeira rangeria um pouco, se eu me mexesse. Os ponteiros do relógio me lembram do silêncio da casa de minha vó. Barulho artificial de água corrente: uma fonte, dizem que é para renovar as energias. Não acredito nessas coisas, mas ao menos já consigo dormir sem desligá-la da tomada. Hoje já fiz quase tudo o que deveria fazer, e estou fisicamente cansada. Deveria pôr a roupa para lavar, tomar um banho demorado, comer alguma coisa quente e gostosa, ir para a cama e ler o livro que há meses está com o marcador na página 23. Deveria pensar no nada, e dormir em paz antes da meia-noite. Mas sinto falta do que não tenho. De quem não tenho. E fico pensando se eu tivesse. Se estaria feliz ou se sonharia com essa silenciosa solidão. Ou com a liberdade. Com a falsa liberdade de nossas escolhas.