domingo, 5 de dezembro de 2010

Me compreenda!

Escrevo por um medo injustificado de uma coisa bela qualquer, por um arrependimento antecipado do que ainda nem vivi. Pela tristeza que ainda não senti, pelo pesar que não encontra motivos. Escrevo pela porção de mim que não cabe nos dias. Pelo que em mim grita sem voz. Pelo que chora sem lágrimas. Escrevo porque viver às vezes parece pouco. Escrevo aquilo que não cabe naquilo que pareço ser. Escrevo o invisível de mim mesma.

sábado, 27 de novembro de 2010

A minha verdade.

Você quer saber minha verdade? a verdade é que sempre fui muito sozinha, e meu vazio sempre foi tão grande que parece não existir pessoa ou sentimento capaz de preenchê-lo. Sinto saudade do que nunca tive. Espero o que nunca terei. Descarto o que posso ter. Sempre precisei ser forte, e precisei dar certo. Nunca ninguém duvidou de que eu seria capaz, ou de que eu me reergueria. Mas eu sou tão sensível, e tão frágil, e nunca ninguém enxergou isso. Nunca me deixaram pedir ajuda. Nunca sentiram pena de mim. Para minhas lágrimas, sempre havia um "isso vai passar". Estou cansada! De impulsionar os outros e a mim mesma. De que acreditem em mim. De dizer aos outros e a mim mesma que vai dar certo. Estou cansada de tanto sorrir por fora e tanto doer por dentro. Quem olha para mim, não enxerga a minha solidão, o meu medo, a minha tristeza, o meu vazio, a minha angústia abstrata de ser amada. De ser carregada no colo. De que finalmente, alguém cuide de mim.

quarta-feira, 24 de novembro de 2010

Quase um Sim...

Estava com o casamento marcado. Vestido nas provas finais, convites entregues. Naquela tarde ensolarada, caminhava distraída, quando ele estacionou ao seu lado. Entra agora, ou eu faço um escândalo aqui mesmo – ele ameaçou. Calmamente, ela entrou no carro e ele dirigiu em silêncio até onde não houvesse nenhuma testemunha. O clima não era tenso. Pararam no meio de uma plantação de trigo, a alguns quilômetros da cidade. “Preciso de um sim, um consentimento, um sinal, um silêncio. Meia palavra tua e mudaremos tudo em nossas vidas”. Não. Não posso – foi o que ela conseguiu dizer. Dias se passaram. Do altar, ela imaginava aquela enorme porta de madeira se abrindo e ele chegando em seu cavalo branco para lhe salvar de suas próprias escolhas. Será que ele entendeu que meu não era um sim? – pensou ela. O tempo passava e a porta não se abria. Veio a pergunta esperada. Sim - a única resposta que parecia possível. Será que ele sabe que meu sim é um não? – pensou ela.

Descanso.

Me sinto bem nesse lugar. Quero ficar aqui. Esse lugar é a trégua. Onde antes de entrar, tirei minhas roupas. Vesti o branco imaginário mais puro que encontrei. Larguei minhas armas. Mostrei minha alma. E palavras reais foram pronunciadas por meus lábios como poesia. E elas ocuparam todo o vazio que havia. Fora e dentro de mim.

domingo, 14 de novembro de 2010

Para o único homem que um dia eu amei...


Antes de dormir, muito mais cedo do que agora durmo, eu pensarei nele, enquanto mexo em meus cabelos brancos. Estarei com o celular na mesa de cabeceira feita de livros velhos e empoeirados, esperando uma mensagem ou uma ligação. Sentada na cama, estarei escrevendo um email de bom dia para o único homem que amei em toda a minha vida. Imaginarei seu sorriso - o mesmo que conheci um dia - ao ler na manhã seguinte minhas palavras catalépticas. Continuaremos trocando juras de amor? Continuaremos culpando a vida e o destino pelos nossos desencontros? É, talvez nunca seja a hora certa para nós dois. Em uma outra vida, talvez ele me diga. E eu, talvez acredite. Não mais faremos planos absurdamente perfeitos, pois não teremos força nem tempo suficientes para concretizá-los. Mas mesmo assim, eu serei feliz por saber que ele ainda me lê, mesmo sabendo que ele não mais existe –ficaria feliz se soube-se que ele ainda existe mesmo que fosse meio torto, meio louco, meio triste e meio só - em alguma parte do globo. E existirão muitas manhãs, muitos invernos e muitas sextas-feiras em que me lembrarei dele. E sua presença invisível não será mais um fantasma, e sim um anjo, que sempre me lembrará das palavras que me foram ditas há muitos anos atrás... "Vamos juntos, eu e você... Minha mão te apoiará para sempre enquanto tu caminhares à beira dos desfiladeiros... Meus braços te erguerão e te colocarão em meu colo... Porque se eu estiver contigo, nada mais me importa... E eu te espero o tempo que for". E eu continuarei a acreditar nessas palavras, pois amar este homem foi o sentimento mais parecido com fé que experimentei. E em meus últimos dias, segurarei com minhas mãos brancas e enrugadas a folha de papel com o email mais importante que ele me escreveu. Que eu lia cinco, dez, vinte vezes ao dia para ter forças, quando a minha vida estava em ruínas. Suas palavras salvaram a minha vida. Ele salvou a minha vida. E ao lembrar de tudo o que aconteceu, meus olhos de areia então não mais movediça, e sim solidificada pelo tempo, derramarão lágrimas indolores. De uma saudade curada pela falta de remédio e de um amor conformadamente eternizado no invisível do Universo. Mas em alguma manhã, ele não mais encontrará meu email de bom dia. Ou eu não receberei a resposta do último que enviei. Então, de nossa história de amor, restará apenas o livro que ele me pediu tanto para escrever. E que eu levei quase uma vida inteira para compor, porque eu tinha medo de chegar às suas últimas páginas.

terça-feira, 9 de novembro de 2010

Por que tenho que crescer??

Crescer? Se for para perder o brilho do olhar e a espontaneidade do sorriso. Se for para disfarçar alegria e tristeza, e assumir uma face inexpressiva. Se for para ter medo de me equilibrar nos muros e mergulhar em rios desconhecidos. Se o frio for capaz de impedir que eu suba no telhado para esperar uma estrela cadente passar. Se eu não tiver mais pedidos para fazer a ela. Se eu andar devagar em cima dos meus saltos altos, quando a minha vontade é correr descalça. Se o medo do desconhecido me impedir que eu tente. Se as surpresas da vida me irritarem por me pegar desprevenida. Se eu me prevenir demais para evitar o sofrimento. Se eu duvidar de tudo porque um dia já fui enganada. Se eu não for mais capaz de deixar as lágrimas rolarem em meu rosto. Se minhas gargalhadas tiverem hora marcada. Se eu achar que o meio-termo me fará uma pessoa mais inteira. Se eu deixar tudo para amanhã. Se for preciso muito mais do que o invisível para que eu seja feliz. Se for assim, não quero crescer.  Ou talvez um pouco. Só o suficiente. Amadurecer demais faz mal.

quarta-feira, 3 de novembro de 2010

É só me chamar, que eu irei...




Tá. Entendi. Que nossa história vai ser assim mesmo. Encontros e desencontros. Ajustes e desajustes. Você me odiando, e eu te amando. E vice-versa. Dependendo do dia da semana. Das palavras ditas e daquelas não ditas. Momentos de calmaria seguidos de tempestades. Beijos e mordidas. Sorrisos e lágrimas. Entendi. Que nossa história vai durar muito tempo. Que cada final vai ser um recomeço. Porque há uma eternidade em cada segundo nosso. Porque há vida. Porque há amor. O amor de verdade. Aquele que confunde. Que busca. Que transgride. Que ensina. Tá, entendi. Que não podemos ficar um sem o outro. Que somos opostos necessários. Na busca inútil e maravilhosa por um equilíbrio.

Arcoverde




Estou indo para onde o tempo passa mais devagar. Mas quando chego, ele voa, e logo já está na hora de voltar. Estou indo para um lugar redescoberto por meus olhos a cada chegada, e banhado por minhas lágrimas a cada partida. Lá as lembranças confundem-se com o vento e com os cheiros: impregnam-se em mim. Estou indo para onde sempre serei eu mesma, e sempre serei outra. Estou indo para onde sempre será o meu lar.

Como eu queria

Hoje eu queria pensar em coisas alegres e comuns. Em dias amenos de primavera, na leveza de pensamentos aleatórios, em gostos e cheiros da minha infância. Hoje eu queria acreditar mais em mim mesma do que nos outros. Hoje eu queria me perdoar, e me livrar desse peso invisível e injustificável que venho carregando. Hoje eu merecia um presente, um descanso, um alívio. Hoje eu precisava mais do que nunca de um amor incondicional, de consolo e de um colo protetor, como se eu fosse uma criança que se machucou por fazer o que não devia. Hoje eu precisava de um olhar de aprovação, me dizendo "não foi nada". Hoje eu queria um abraço muito longo e muito forte, e uma certeza. De que tudo vai ficar bem. De que um dia finalmente poderei dormir leve e acordar sem medo. 

Dar tempo ao tempo!

Já escrevi mais, já questionei mais, já tive sede por mudanças, já tive muita pressa. Agora quero ler, quero encontrar algumas respostas prontas - nem que seja para duvidar delas -  mas mais ainda, quero ser questionada. Tantas coisas em minha vida e em mim mesma vêm mudando, que agora preciso sentir esse novo acomodar-se. Preciso observar, quieta e imparcial. Preciso me dar ao luxo de caminhar devagar. Preciso de alguns poucos dias iguais. Para neles descansar.

Escrevo...

Acho muito estranho pedir a quem escreve explicações sobre aquilo que escreveu. "O que você quis dizer com isso?" Para você não deveria importar o que eu quis dizer, e sim a sua interpretação, o que você entendeu - tenho vontade de responder. Só consigo escrever se pensar - a princípio - que ninguém irá me ler. É no meu caos particular, na desordem de meus sentimentos e no processo de entender, que as palavras conseguem abandonar minha alma, e escorrer livremente para fora de mim. Sem explicações, sem atender a exigências, sem a necessidade de compreensão.

segunda-feira, 1 de novembro de 2010

Amor à Primeira Vista!?

Eu nunca tinha visto olhos como os dele. Olhos que me desarmam, olhos em que me vejo. Olhos que me falam e me lêem.  Tanta transparência me deixa envergonhada. Aqueles olhos me obrigam a falar a verdade. Me viram do avesso sem que eu perceba. Transbordam sonhos, esperanças. Derramam as lágrimas mais puras que já vi. Faiscam sentimentos. Olhos que travam um diálogo consigo mesmo. "Tenho medo, mas vou tentar. Já fui enganado, mas sigo confiando. Faço dar certo. Volto atrás. Me recuso a perder. Não sei o caminho, mas sei que vou chegar." Eu poderia passar todos os dias de minha vida perdida naquele olhar.  Aqueles olhos encerram em si a tempestade e a calmaria que procuro. E eu não precisaria de nada além deles para me apaixonar.  E eu não preciso de nada além deles para acreditar de novo no amor.
E então, eu diria que o amo. E esse eu te amo seria inevitável, simples e puro, como se eu recém tivesse descoberto o que isso significa.

Por que tento destruir as coisas que mim faz feliz?

Para não sermos pegos de surpresa. Por teimosia. Para manter a superioridade, e o controle. Inútil, eu sei. Mas tudo parece ser inútil nessa vida. Dor causada por mim mesma sempre vai doer menos do que a dor que tu me causas. Tento destruir agora por medo. De que o fim chegue quando me sinto ainda mais feliz. Que o fim destrua mais do que a felicidade que julgo sentir. Que o fim destrua parte de mim mesma. Decido perder enquanto ainda posso somente sofrer, enquanto sei que ainda posso me regenerar.

sexta-feira, 22 de outubro de 2010

Personalidade?!

Não gosto dessa palavra, personalidade. Acho que ela é usada indevidamente. "Aquela mulher tem personalidade". É óbvio que tem, tanto quanto tem ossos. Não existe pessoa sem personalidade. Existem pessoas que não deixa marcas, que passam por nossas vidas de forma quase despercebida. Que não deixam de si e não levam de nós. Como paredes, sofás, estão ali. Mas não dá vontade de mergulhar nelas. Gosto daqueles cuja intenção principal não é a de agradar, mas que acabam fazendo isso ao despertar em mim a vontade por respostas, o desejo de decifrar os enigmas. Gosto de pessoas que me surpreendem, que me instigam. Doces, ácidas, mas que tenham sabor. De olhos calmos ou furiosos, mas que neles eu possa ver a alma. Que usam da paixão para pensar, para sentir, para agir e interagir. Para viver. Que não estão aqui para fazer número. Que buscam entender, a si mesmos e aos outros. Que se expõem, que saem dos seus mundinhos de verdades perfeitas e felicidade infinita. Gosto das pessoas que são ao mesmo tempo constantes e imprevisíveis. Das que riem e choram nas horas mais impróprias. Das que perderam o medo de dizer "eu te amo" e "eu te odeio". Que desabam de vez em quando. Que pedem desculpas, que agradecem, que imploram por alguma coisa. Das que me fazem rir ou chorar, ou me sentir leve, ou me sentir incomodada. Gosto das pessoas que pensam em coisas absurdas, que sabem ler entrelinhas, que enxergam o invisível. Que fazem poesia das coisas comuns, sem perceber isso. Odeio quem vive de teorias emprestadas. Que sequer entende o que fala, mas repete. Odeio quem nunca questiona as regras. Quem nunca muda o itinerário, quem nunca muda de ideia, quem nunca muda. Ser sempre o mesmo, em uma vida que muda a cada dia? Odeio quem tem medo de odiar. Não concordar é prova de amor, de interesse. Prefiro que gritem comigo do que me ignorem. Os teimosos têm a força da convicção. Os tristes têm sensibilidade. Os inconformados movem o mundo. Os que atrevem-se a pensar e a agir da forma que poucos pensaram e agiram, mudam a história, devagar, abrindo o caminho para aqueles que não coneguem deixar de seguir e acreditar no normal, no evidente, no esperado, no certo, no comum. Ter personalidade é ter coragem para mostrar tudo o que somos, o que gostamos e o que buscamos. Somos formados por aquilo que nos permitimos ser.

terça-feira, 5 de outubro de 2010

O que Posso Fazer por Você?

Não vou lhe salvar: vou estar ao seu lado observando você mesmo se salvar. Não vou fechar os olhos para os seus defeitos, mas também não pretendo corrigi-los. Vou tentar fazer com que você tenha consciência deles, e decida por conta própria se quer mudar ou não. Não vou lhe dar falsas certezas, e talvez seja nas dúvidas que lhe trago que você conseguirá enxergar as respostas que procura. Não cabe a mim lhe perdoar, nem lhe dar novas chances. Cabe a você se enxergar, se entender e desejar não cometer os mesmos erros. Não sou melhor nem pior do que você. Temos muito o que aprender e ensinar um ao outro. Somos indivíduos em tentativa de ajuste. Em busca de algo parecido com felicidade. Lamento, mas eu não tenho a capacidade de lhe fazer feliz. Porque felicidade não é presente, é conquista. E talvez consigamos a encontrar em alguns trechos desse caminho compartilhado. Enquanto estivermos tentando conciliar o "nosso" com o "meu" e o "seu". Sem que deixemos de escrever nossas próprias histórias. Sem que impeçamos um ao outro de ser, de sonhar, de crescer, de mudar. E talvez isso seja o amor que dissemos nunca ter entendido ou encontrado.
Fico feliz em ver você se tornando você. Seus voos não trazem a mim medo de lhe perder. Pois é mais fácil um pássaro engaiolado tentar fugir do que aquele que possui o céu inteiro para voar.

O que você faria se pudesse fazer o que quisesse?

Estou sozinha. Minha cadeira rangeria um pouco, se eu me mexesse. Os ponteiros do relógio me lembram do silêncio da casa de minha vó. Barulho artificial de água corrente: uma fonte, dizem que é para renovar as energias. Não acredito nessas coisas, mas ao menos já consigo dormir sem desligá-la da tomada. Hoje já fiz quase tudo o que deveria fazer, e estou fisicamente cansada. Deveria pôr a roupa para lavar, tomar um banho demorado, comer alguma coisa quente e gostosa, ir para a cama e ler o livro que há meses está com o marcador na página 23. Deveria pensar no nada, e dormir em paz antes da meia-noite. Mas sinto falta do que não tenho. De quem não tenho. E fico pensando se eu tivesse. Se estaria feliz ou se sonharia com essa silenciosa solidão. Ou com a liberdade. Com a falsa liberdade de nossas escolhas.

domingo, 26 de setembro de 2010

A Liberdade na Solidão...


Houve um tempo em que todos os dias eram iguais. Como um caminho conhecido, onde eu podia fechar os olhos, e mesmo assim não me perderia. Onde tudo em mim esperava. O dia certo da semana. A época do mês e do ano. Meus sonhos eram todos protocolados. Passaram a se chamar objetivos, e eram calmamente atingidos, um a um, na ordem certa. Até meu pensar era condicionado. Minha liberdade consistia em uma ampla prisão de grades invisíveis. Houve um tempo em que a segurança me sufocava. Em que olhei para meus dias perfeitos e tive vontade de chorar. Tive vontade de trocá-los por qualquer coisa mais dolorosa e mais solitária. Tanta certeza me enchia de dúvidas. E as dúvidas me faziam mal porque eu estava perdendo a coragem de ir atrás das respostas. E tive medo de nunca mais lembrar o que eu desejava ser. De morrer assim, tendo sido tão pouco. Tendo vivido de maneira tão confortável.

Dia de Chorar!!


Preciso sentar e chorar. Sem olhares e sem palavras sobre mim. Sem medo ou vergonha. Sem tentar entender o porquê disso que nem tristeza é. Chorar por tudo e por todos, e por mim mesma, e pelos anos que passaram, e pelos que virão. Como se eu colocasse todos os motivos possíveis - reais e imaginários - na minha frente e pudesse sofrer, e me lamentar, e me arrepender demoradamente por cada um deles. E depois que as lágrimas resolvessem deixar de cair, experimentando alívio ou não, acho que eu me sentiria mais livre.

quarta-feira, 15 de setembro de 2010



QUER SABER O QUE EU PENSO?

Quer saber o que eu penso?

Você agüentaria conhecer minha verdade?

Pois tome. Prove. Sinta. Eu tenho preguiça de quem não comete erros.

Tenho profundo sono de quem prefere o morno. Eu gosto do risco. Dos que arriscam. Tenho admiração nata por quem segue o coração. Eu acredito nas pessoas livres. Liberdade de ser. Coragem boa de se mostrar. Dar a cara a tapa! Ser louca, estranha, linda, chata!

Eu sou assim. Tenho um milhão de defeitos. Sou volúvel. Sou viciada em gente.

Adoro ficar sozinha. Mas eu vivo para sentir. Por isso, eu te peço.

Me provoque. Me beije a boca. Me desafie. Me tire do sério. Me tire do tédio.

Vire meu mundo do avesso!

Mas, pelo amor de Deus, me faça sentir! Um beliscãozinho que for, me dê. Eu quero rir até a barriga doer. Chorar e ficar com cara de sapo. Este é o meu alimento: palavras para uma alma com fome.

Você agüentaria viver na montanha-russa que é meu coração?

Desculpa, nada é pouco quando o mundo é meu.


A Viagem

Através da janela eu espiava as estrelas que brilhavam cintilantes naquele dia de céu escuro. Filmes desconexos passavam apressados pela cabeça, e a paisagem lá fora, as árvores do cerrado que eu tanto apreciara das outras vezes, se afiguravam sombrias, emudecidas. Nesses momentos é comum refletir sobre a vida, fazer planos, ter saudade dos que ficaram na rodoviária com lágrimas nos olhos.

O passageiro ao meu lado abre e começa a devorar o pacote de biscoitos de polvilho, não sem antes ter-me oferecido alguns, com a boca já cheia. A criança inquieta que viajava ao lado da mãe, nas poltronas da frente, também decide abrir o saquinho de batatas; quase ao mesmo tempo em que o rapaz de boné que dormira com o disc man ligado despertou e desembrulhou logo um bombom. Aquele silêncio de morte fora interrompido pelos insistentes maxilares daqueles viajantes. Meus pensamentos à mil e meu estômago embrulhando com todo aquele cheiro de comida industrializada.

Eu ali, com vontade de chorar por todos os motivos do mundo. Um nó prende a voz na garganta. Não me permito esboçar nenhuma dor ali, no meio de tantos desconhecidos.

Nem uma nuvem no céu. E me pego pensando na morte.
Quando morremos,para onde iríamos, afinal? Seria possível encontrar os entes queridos que já partiram há muito? E os que partiram há pouco, de surpresa, cuja perda parece nem ter sido registrada pelos sentidos, que parecem anestesiados? Há de fato alguém nos esperando em algum lugar? Com vestimentas claras, feições angelicais e tempo infinito para nos explicar pacientemente os mistérios inacessíveis aos mortais da Terra?

Não tenho medo da morte. Tenho medo da solidão. Não essa solidão a que já nos acostumamos; de ver rostos mas desconhecer as identidades, os desejos, os defeitos, a essência. Acostumei-me a ver sem enxergar. Todos nos acostumamos. Falo da solidão absoluta; da completa impossibilidade de comunicar-me; manifestar sentimentos; tocar e poder perceber as coisas. Choro. Começo a soluçar. Como criança, exteriorizo todo o pesar da perda, e a angústia que fustigava meu peito. Olhares discretos e prestativos são dirigidos a mim. Não pronunciei palavra, mas foi como se naquele momento todos ali soubessem o motivo exato do meu choro; complacentes, como se dispusessem-se a dividir aquela dor comigo.

Da janela entreaberta um vento calmo toca meu rosto. Fui placidamente respondida. Nunca estamos sozinhos.

segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010


"Eu nunca fui uma moça bem-comportada. Pudera, nunca tive vocação pra alegria tímida, pra paixão sem orgasmos múltiplos ou pro amor mal resolvido sem soluços. Eu quero da vida o que ela tem de cru e de belo. (...) Sou dramática, intensa, transitória e tenho uma alegria em mim que quase me deixa exausta. Eu sei sorrir com os olhos e gargalhar com o corpo todo. Eu sei chorar toda encolhida abraçando as pernas. Por isso, não me venha com meios-termos, com mais ou menos ou qualquer coisa. Venha a mim com corpo, alma, vísceras, tripas e falta de ar.... Eu acredito é em suspiros, mãos massageando o peito ofegante de saudades intermináveis, em alegrias explosivas, em olhares faiscantes, em sorrisos com os olhos, em abraços que trazem pra vida da gente. Acredito em coisas sinceramente compartilhadas. Em gente que fala tocando no outro, de alguma forma, no toque mesmo, na voz, ou no conteúdo. Eu acredito em profundidades. E tenho medo de altura, mas não evito meus abismos. São eles que me dão a dimensão do que sou."

"Eu"

"Eu nunca fui uma moça bem-comportada. Pudera, nunca tive vocação pra alegria tímida, pra paixão sem orgasmos múltiplos ou pro amor mal resolvido sem soluços. Eu quero da vida o que ela tem de cru e de belo. (...) Sou dramática, intensa, transitória e tenho uma alegria em mim que quase me deixa exausta. Eu sei sorrir com os olhos e gargalhar com o corpo todo. Eu sei chorar toda encolhida abraçando as pernas. Por isso, não me venha com meios-termos, com mais ou menos ou qualquer coisa. Venha a mim com corpo, alma, vísceras, tripas e falta de ar.... Eu acredito é em suspiros, mãos massageando o peito ofegante de saudades intermináveis, em alegrias explosivas, em olhares faiscantes, em sorrisos com os olhos, em abraços que trazem pra vida da gente. Acredito em coisas sinceramente compartilhadas. Em gente que fala tocando no outro, de alguma forma, no toque mesmo, na voz, ou no conteúdo. Eu acredito em profundidades. E tenho medo de altura, mas não evito meus abismos. São eles que me dão a dimensão do que sou."